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Viver com nossas cicatrizes

  • Foto do escritor: Rodolfo Olivieri
    Rodolfo Olivieri
  • 5 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

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Não é preciso viver muito tempo para perceber que o universo é sempre muito hábil, rápido e criativo quando se trata de nos produzir feridas. Isso acontece a todo tempo, com todos nós. É inevitável, inerente à condição de ser humano, vivente em um tempo, em um espaço.


Freud, em seu “Mal-estar na civilização” nos esclarece que o estado de conflito e sofrimento que padecemos não é atoa, pois temos de nos preparar e viver com a iminência de ataques e condições complexas de miséria vindas de fontes diversas, como do nosso próprio corpo: dores, doenças, envelhecimento, morte. Da natureza, sempre soberana e avassaladora, e obviamente das outras pessoas, que querendo ou não, podem nos provocar feridas e amargores. 

Dado o que foi dito até então, pode ficar a pergunta: como suportar uma existência que nos submete à violência, à uma condição constante de fragilidade, traições, medos, e uma série de dores possíveis?


Bom, neste ponto julgo que vale a pena se ressaltar o fato de que essa posição de “conflito” frente à vida é fundamental, do contrário estaríamos entregues à uma posição deprimida, inerte. A vida não é brincadeira e podemos ser machucados, assim como machucar, e as feridas sempre doem. Quem disser o contrário disso não estará sendo honesto contigo. E acredite, não faltam coachs de good vibes por aí querendo vender essa ideia tão falsa e financeiramente rentável. De cicatriz em cicatriz vamos vivendo, deixando com que o mundo nos surpreenda, por vezes tirando proveito e gozando no meio da tempestade. 


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O famoso psiquiatra Carl Jung nos dizia “nenhuma árvore pode crescer até o céu sem ter raízes tão profundas a ponto de tocar o inferno”. Freud, como de costume mais assertivo (e menos belo) também dizia sobre a proposta de “cura” da psicanálise “a pretensão é transformar neurose em mera miséria humana”


Viver requer coragem, confiar requer muita coragem, e às vezes somos “convidados” a nos lembrar que coisas ruins podem acontecer. As cicatrizes ficam, como diz a Nação Zumbi em sua música: ”visível marca de um riscado inesperado pra lembrar do que me aconteceu / risco do erro, mal visto, mal quisto e mal olhado”


Contudo, fica a possibilidade de elaboração, após repetir o erro por muitas e muitas vezes e recordar e falar palavras vindas do coração, talvez abra-se a possibilidade de elaborar, aprender a viver com a nova marca. Aguardo pelo dia em que as pessoas se recordem que de técnico e exato não temos nada! Que conflitos não nos faltam e que a existência é trágica, ou seja, coisas boas e ruins vão acontecer e as vezes pouco teremos como controlar.        

 
 
 

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