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Sonhos: um brevíssimo ensaio

  • Foto do escritor: Rodolfo Olivieri
    Rodolfo Olivieri
  • 4 de jul. de 2020
  • 3 min de leitura

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A proposta aqui é tentar ir além do famigerado livrinho de significados de sonhos (sonhar com dente caindo é isso, com cobra é aquilo e que está voando é aquilo outro) e de fato compreender o básico sobre as funções e estruturas do sonho.


Segundo o Talmud (livro sagrado dos Judeus), um sonho não interpretado é “uma carta recebida que ficou sem ser lida”. Não sou Judeu, pouco conheço da sua tradição e não entrarei no mérito do que significa “interpretar” para eles, tampouco sua compreensão sobre quem enviou a carta e o motivo. No entanto, a ideia de “carta” é interessante, e usarei outros pensadores para tratar do assunto.

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Todo mundo sonha, e isso acontece quando atingimos um estágio mais profundo do sono. No meu caso, que durmo com rapidez, já cheguei a ter longos sonhos em cochilos de 10 minutos. Quanto à lembrar (ou não) que sonhou e a temática, bom, isso são outros quinhentos.

Dentre as diversas possibilidades de abordagens (esse é um ensaio mais amplo e raso), vale pensarmos que o sonho sempre é intenso para o sonhador, e enquanto ele acontece é tão palpável quanto a “vida real”. Citando o médico e psicólogo Havelock Ellisum: “um sonho é real enquanto dura. Podemos dizer mais da vida?”

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Totem usado por Cobb (DiCaprio) no filme "Inception" para saber se estava ou não no sonho 


Voltando para a metáfora da carta, sempre a recebemos em uma língua "estrangeira", neste caso, a linguagem dos símbolos. Apesar de estarmos inseridos até o pescoço em contextos simbólicos, pouco sabemos sobre sua estrutura.

Alguns pensadores (inicialmente Freud) entendem o sonho como uma espécie de “realização psíquicas de desejos”, ou seja, se nosso desejo é impraticável na realidade, se torna possível na vida onírica (naturalmente dentro das “regras de segurança” do nosso aparelho psíquico que sempre tenta nos manter saudáveis e equilibrados).

Outros autores (inicialmente C. Jung) dizem que o sonho funciona como uma espécie de “manutenção do equilíbrio psíquico”, ou seja, ele abre caminho para entrarmos em contato com conteúdos complexos internos, pouco explorados na “vida acordada”. Dessa forma, ele utiliza elementos simbólicos pessoais e coletivos para falar de conteúdos relevantes.

Resumidamente, conteúdos pessoais são aqueles que fazem parte da nossa história de vida, que ficam alocados no nosso inconsciente. Já o “acervo coletivo” é como uma estrutura fundamental simbólica que diz respeito à toda a humanidade, elementos que todos somos predispostos a entrar em contato. C. Jung os chamou de arquétipos (o pai, a mãe, o sábio, o herói, o mago, o sol, a terra, o fogo, a água, etc….).


Vale ressaltar que o sonhador sempre é quem sabe mais e melhor sobre seu sonho. As respostas estão sempre com ele, os significados e as “chaves simbólicas” também. Um psicólogo (ou analista) pode ajudar muito no contato com esses conteúdos, mas além da análise, podemos nos envolver com os nossos sonhos de outras formas, como por exemplo falando sobre eles, os revivendo durante o dia, os anotando ao acordar (depois disso quase sempre os esqueceremos), ou simplesmente nos dispondo a sonhar. Acredite, a simples postura ativa frente ao sonho abre as comportas do inconsciente.

No entanto, devo lhe alertar que às vezes os sonhos tratam de temas críticos, espinhosos, doloridos. A aprendizagem nem sempre é suave, mas acredite, é como fazer uma consulta matinal com um mestre que te conhece muitíssimo bem, e que sempre lhe fala com muita propriedade, se você quiser o ouvir.

Bom, mas no fim das contas o que quer dizer sonhar com cobra? com morte? e com dente caindo? Calma lá que a coisa não funciona bem assim.

Diferente do que os livrinhos místicos de meia tigela e os gurus charlatões querem te convencer, a coisa não é tão simples, e a conta não é tão exata.


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Lembra dele? Ligue já

Símbolos diferentes significam coisas diferentes para pessoas diferentes em diferentes momentos da vida. Com isso quero dizer que cada símbolo traz em si uma certa gama de possibilidades, mas a coisa não pode ser levada a ferro e fogo. Ou seja, se você sonha com pessoa “x”, isso não quer dizer que você pensou nela ultimamente, ou ainda que a encontrará nos próximos dias (ainda que isso possa acontecer eventualmente). É mais válido tentar entender o que essa pessoa significa para você, e tentar compreender o motivo pelo qual seu inconsciente escolheu “essa” pessoa, para tratar “desse” tema.


Eu sei que a vontade é grande de colocar o sonho como oráculo, mas acredito que ele já seja lindo o suficiente da forma como é. Cada sonho é uma obra prima, uma maravilhosa arte criada pelo sonhador, com roteiro, cores, sons, músicas, impressões, enquadramentos, duração, composição, tudo.

Sei que muitos pontos ficaram superficiais, e pretendo me aprofundar em alguns deles em outros momentos, mas por enquanto, vamos nos atentar para nossas correspondências.

 
 
 

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