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O amor é inútil

  • Foto do escritor: Rodolfo Olivieri
    Rodolfo Olivieri
  • 4 de jul. de 2020
  • 3 min de leitura


O amor é completamente inútil, assim como todas as coisas importantes da vida.

Calma lá, algumas pontuações antes de seguirmos.


Quando se diz que algo é útil, na verdade estamos afirmamos que o valor desta coisa está fora dela. Exemplo: Uma cadeira é útil em um escritório, pois podemos nos apoiar nela e passar o dia de forma mais confortável. Um carro é útil, pois evita o gasto de tempo e energia desnecessários para atravessar longas distâncias. Em ambos casos, “o valor da coisa não está na própria coisa”, mas fora dela, no que ela pode proporcionar.    


Para além da utilidade, é importante pensarmos que a ideia de amor geralmente vem acompanhada da de desejo, aquele pêndulo que movimenta nossa vida, nos fazendo optar pela atividade (tocar a vida) ante a estagnação, mas que também nos coloca em um angustiante ciclo que nos compromete cada vez mais.

Novamente ele, o pêndulo 


Seu movimento é óbvio: primeiro desejamos algo, sofremos com a falta, saciamos o desejo (nos casos em que é realizado) e instantaneamente paramos de desejar aquilo. Isto é o que o caracteriza: não o ter. E ao realizar o desejo ficamos satisfeitos? Óbvio que não.

Associamos amor e desejo a todo momento, e não à toa: essa ideia é antiga, e começa com nosso caro Platão. Ele nos dizia que amar é desejar, e que seria impossível pensar em um sem outro. Desejo neste caso nada mais é do que a energia que mobilizamos na busca do que nos falta. Podemos definir então que amor é desencontro, pois quando alcançado acaba com o desejo (que não é mais desejado), e junto com o amor. A presença mata o amor.

Triste? Calma lá.  

- "O importante é a ideia! - Não, chapa. Se não é aqui não vale."  

Aristóteles pensou diferente. Ele ressaltou que o amor é apenas válido se for destinado às coisas e pessoas que “já temos”, pois para este pensador o mundo é o aqui e o agora, é só isso o que há. Basicamente se você não amar o que já está disponível não terá mais nada para amar, pois todo o resto é incerto.

Bom, não é preciso ir muito longe para ver que a coisa não é tão simples assim.

Joaquin Phoenix no filme Her (2014). O amor é aqui é, grosso modo,  por um sistema de computador. 


A pergunta que fica agora é: Qual dos dois está certo? Aparentemente os dois, pois a grande prova do amor é amar tanto na falta quanto na presença.

É inegável que estamos inseridos em uma sociedade que funciona a partir da lógica do consumo, e obviamente aqui o desejo é muito mais estimulado e apreciado do que o contentamento pelo que já temos. Faça o teste, chegue hoje para seu pai, mãe, marido ou esposa e diga que não vai mais trabalhar, que já está contente com o que tem. A reação será raivosa e imediata.

Também é válido se perguntar como chegamos até aqui (como espécie) sem amor, como não nos matamos até agora. A resposta para isso é a moral, que nada tem a ver com amor, mas que o imita. Basicamente: se você não mata seu vizinho, seu ex ou seu chefe, não é pelo imenso amor que sente por ele, mas sim pela moral.   

Talvez o equilíbrio ideal (se é que isso existe) seja desejar o que falta, se alegrar com o que já tem, e perceber que conquista alguma tem valor se comemorada sozinha. Agora vamos voltar ao amor.


Por que ele é inútil? Porque seu valor está em si próprio (algo cada vez mais raro na sociedade da utilidade e do consumo). Quando se ama se ama, e ponto final. Não importa qual o benefício que a outra pessoa (ou coisa) trará, o importante é estar, é o sentimento em si.

Talvez a dificuldade em lidar com esse sentimento venha da dificilmente em defini-lo. Como se define o amor? Dor de barriga? borboleta no estômago? Talvez isso caiba melhor no âmbito das sensações e das paixões.

O que “eu te amo” quer dizer? O que amar quer dizer? Talvez queira dizer: “eu fico com você sem motivo, sem utilidade, sem finalidade, só por ficar, só porque eu quero”. Amar é tão inútil quanto ser feliz. O ganho é tanto e tão perceptível que não é preciso justificar. E quanto ao apego? E às relações narcísicas? Bom, isso fica para uma próxima

 
 
 

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