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Afeto não é "mimimi"

  • Foto do escritor: Rodolfo Olivieri
    Rodolfo Olivieri
  • 5 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

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Durante o ano de 2016, enquanto estagiava na Escola de Governo da Prefeitura de Campinas, tive a oportunidade de conversar com diversas mães e educadoras sobre as questões do afeto, das vivências afetivas, do holding (ou na excelente tradução adaptada, aconchego), da angústia e de outros assuntos que falavam diretamente sobre suas vivências nas escolas e com a maternidade. De todas as pesquisas que fiz na época, algo em específico sempre me chamou a atenção, que é a relação (quase) direta que fazemos entre afeto e “mimimi” (considerando mimimi como apertão de bochecha, elogio e muita fofura), delicadeza, proximidade, doçura, e outros aspectos de difícil “acesso” para pessoas mais introvertidas, tímidas, reservadas, ou com mais dificuldade de contato e de expressar diretamente os sentimentos.


Muitos de nós temos dificuldade em falar, tocar, elogiar, brincar, segurar. Considerando essa dificuldade, essas pessoas devem ser consideradas menos afetuosas? Ou ainda, o que define afeto? E qual a razão de afeto ser afeto e não ser sentimento, paixão, ou outra coisa qualquer?

Podemos considerar nossa vida afetiva como sendo o âmbito psíquico das nossas vivências, ou seja, o “brilho” das experiências que passamos durante a vida. Podemos ainda as dividir em 5, resumidamente:

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"hum...sou todo ouvidos..."


Humor: O “tônus afetivo”, ou seja, nosso estado emocional básico e efêmero. Pode se alterar rápida e facilmente, e diversas vezes ao longo do dia. É nossa lente afetiva.

Emoção: Estado mais intenso, breve e reativo que temos a estímulos internos, externos, conscientes ou inconscientes. A emoção é vivida no corpo (nó na garganta, borboleta no estômago, cabeça quente, etc.)

Sentimento: Menos reativos e de mais longa duração. Geralmente são construídos ao longo de uma relação e podem ser da esfera da tristeza, da alegria, da agressividade, da atração, do perigo. (Melancolia, euforia, revolta, gratidão, orgulho, receio)

Afeto: É o componente emocional que acompanha uma ideia, uma lembrança. Basicamente, ao nos lembrarmos de uma coisa ou pessoa, algum componente emocional é ativado, e esse “tônus emocional” é o afeto. Você consegue se lembrar do seu primeiro carro? primeiro emprego? dia do casamento? O elemento emocional que acompanhou a memória é o afeto.

Paixão: Estado intenso, dominante e em alguns casos paralisante. Sua base (considerando a palavra) é “pathos”, a mesma de patologia (doença). Geralmente é fugaz e muito profunda.


Ok, e o que podemos tirar disso tudo? Podemos ter um grande e positivo afeto por outra pessoa (situação ou coisa) e simplesmente não deixar isso transparecer, assim como o contrário é verdade, e podemos demonstrar afeto a outra por interesse, mentira, obrigação, protocolo….

É importante compreendermos que quando falamos de afeto, duas dimensões são fundamentais: sintonização e irradiação, ou seja, nossa capacidade de se sintonizar ao contexto (por exemplo, não vou entrar gargalhando em um velório, isso seria inadequado por diversas razões) e transmitir o que se passa em nós, internamente. Aqui poderíamos elencar mais uma série de problemas, como a impossibilidade de ser autêntico no local de trabalho ou em alguma relação, o receio de julgamentos, a insegurança, entre outras dezenas.

Afeto pode ser exteriorizado de diversas formas, desde as mais animadas e eufóricas (efeito Felícia) até as mais contidas e subliminares. As vezes precisamos, procuramos ou cobramos demonstrações mais efetivas, explícitas, mas ganha aquele que consegue sintonizar, reconhecer e apreciar os mais variados afetos.

 
 
 

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